O dia que decidi trabalhar com uniformes
Era noite, meu pai, Walter, estava em casa e aguardava a liberação da loja em que trabalhava para voltar a vender camisas. A proprietária havia pedido que ele fechasse a loja por uns dias para reformá-la. Lá, ele vendia camisetas para pequenos grupos e empresas no varejo. Minha irmã, Valesca, ajudava com o atendimento no balcão. Ao vê-lo nesta pausa forçada, pensei: dá para fazer camisas no atacado, para mais gente, e de forma personalizada, para empresas maiores.
Eu tinha apenas 19 anos. Fazia o curso de Comunicação Social Integrada na PUC e tinha na bagagem poucos meses em um estágio na Unimed. Não sei de onde tirei essa ideia, acho que foi da vontade de impulsionar o negócio para outro nível e principalmente ajudar meu pai a proporcionar uma vida melhor para minha família. Por isso, minha intuição dizia que a proposta iria dar certo. Para começar, eu tinha o conhecimento do meu pai a meu favor, nada de preguiça e muita vontade de fazer acontecer.
Apesar das minhas boas intenções, meu pai levou um susto quando cheguei com a ideia. Ele achava que meu curso nada tinha a ver com o negócio. Eu era muito jovem, nós não tínhamos dinheiro para investir. Pouca coisa parecia cooperar. Porém, algo dentro de mim dizia que ia dar tudo muito certo. Minha mãe, Zirlene, apoiou. Gostou da ideia de meu pai ter mais uma filha para ajudá-lo.
Depois do #Day1: início de batalhas
Meu pai logo se convenceu que eu podia apostar. Como estava bem no início da vida profissional, tinha tempo para mudar se fosse o caso. Mas, felizmente, não foi preciso, tanto que estou aqui para contar a história 🙂 Ele não chegou a voltar para o loja. Começamos a empresa, até então sem nome, nos fundos de casa.
Nessa época, tínhamos um carro para a família toda, que era usado para a empresa. Tínhamos um esquema. Eu saía com minha mãe, deixava ela no trabalho e meus irmãos na escola. Acordava bem cedinho para fazer a rota. Aproveitava o caminho para fazer negócios. Detalhe: eu nunca tinha vendido nada na vida. Quando eu deixava os meninos na escola, bem cedinho, aguardava para falar com os responsáveis pelas compras e tentava vender uniformes para eles. Usava o pouco tempo para dormir no carro, até a hora da reunião. Era meu momento para recarregar as energias. Assim, dormia dentro do carro enquanto dava o horário. Fechei as primeiras vendas assim.
Nesse momento eu precisava levantar capital e para isso trabalhava da maneira mais barata, na informalidade. A produção era 100% terceirizada, na antiga loja do meu pai havia só uma mesa de corte. O Waltinho, meu irmão mais novo, até o ajudava depois das aulas com o trabalho.
Crescimento da W3
Desde a primeira reunião que fiz, eu sabia que minha ideia tinha tudo para dar certo. Bastava eu me diferenciar no mercado com o que o cliente merecia ter: entrega rápida, atendimento consultivo e qualidade. Não consegui tudo isso de uma vez. Os recursos eram poucos, o primeiro computador, para terem uma ideia, dividimos em 24 vezes.
Por ter começado de maneira terceirizada, eu não tinha um controle de qualidade. As peças também não seguiam um padrão. Cada costureira, por exemplo, usava a linha de sua preferência. A terceirização também impactava meu tempo de entrega.
Fui fazendo os ajustes aos poucos, em um ano aproximadamente, saímos dos fundos da minha casa e fui para um galpão bem próximo. Lá começamos a ter maquinário e equipe. Anos depois, nossa produção passou a ser 100% própria. Isso me ajudou a ter cada vez mais qualidade e rapidez.
Uma prima minha, a Bábara, trabalhou com a gente meio período no início para dar uma mão em tudo. A minha equipe comercial começou a ser formada conforme a demanda foi aumentando, de maneira quase natural. A Valesca estava na empresa nesta época e havíamos contratado a Débora Zanetti como secretária e arte-finalista. Mas ela se tornou consultora um tempo depois e ficou conosco por muitos anos.
No meio de tudo isso, eu fazia de tudo um pouco. Levava trabalho para casa e os amigos de faculdade para dentro da W3. Era a forma que havia para eu conciliar o que precisava fazer na universidade com as demandas da empresa. Chegamos a varar madrugadas na W3.
A história do nosso nome
Minha mãe levava nossas peças para silkar no tempo livre e nos apoiava muito. Foi ela quem batizou a empresa. Um ano depois de ter começado o negócio, precisávamos de um nome urgente, da noite pro dia. Para vender em grande quantidade, para organizações de renome, era necessário formalizar. Ela, vendo nossa luta, soltou:
- E se fosse W3?
Não entendemos em um primeiro momento, mas soava bem. Ela explicou:
- Walter e seus três filhos.
Compramos o naming da dona Zirlene e assim ficamos conhecidos no mercado. Com a profissionalização, os 3 Ws continuam a fazer sentido, carregam nossa história. Hoje, têm até mais um significado. Com a profissionalização, além de mostrar que somos uma empresa familiar, os Ws querem dizer o seguinte.
Work (trabalho)
Wear (vestir)
Well Dressed (bem vestido)
Primeira arte-finalista
No ano em que fundamos a W3, a Valesca parou de trabalhar com meu pai porque estava finalizando o Ensino Médio. Optou por fazer o terceiro ano integrado como preparação para o vestibular. Quando passou essa etapa, ela voltou. Ainda bem, porque eu precisava dela novamente. Quando ela ia levar os trabalhos para os arte-finalistas que contratávamos, ela observava como eles operavam o Corel Draw. Instalou o programa em um computador e começou a explorar o programa sozinha. Assim ela se tornou nossa primeira arte-finalista. Ficou dois anos nessa função.
Além da vontade de aprender e de contribuir com a empresa, Valesca contava com a ajuda do Ney, um profissional que começou como terceirizado nosso e depois foi contratado. Ele tinha uma boa base, Ney também sabia como a arte final tinha que ficar para fazer um bom silk e ajudou a Valesca até ela pegar o jeito.
Outras histórias para contar
Quando comecei a relembrar a história da W3, mal sabia que ao colocá-la no papel teria tanta coisa. Eu tenho mais acontecimentos para compartilhar com vocês, como o que aconteceu no dia em que marquei minha primeira grande reunião e fechei uma venda com a Coca Cola. Mas vou deixar para um outro artigo. Acredito que as histórias são o que as empresas têm mais especial e único, podem inspirar quem está na batalha. Então, em breve eu volto com outras história bem legais da W3. Nos vemos!