Vestidas para vencer: Seleção Feminina de Futebol conquista primeiro uniforme exclusivo para elas em 2019
Você sabia que uma das conquistas da Seleção Brasileira de Futebol Feminino foram os uniformes? Até 2015, a modelagem dos calções e camisas só passavam por pequenos ajustes. Mas mesmo depois de conseguir que a modelagem fosse feminina, o design do uniforme da Seleção Feminina continuou igual ao dos homens por quatro anos. Só em 2019 é que as craques tiveram um uniforme desenhado exclusivamente para elas.
Sobre o design do uniforme da Seleção Feminina, pode ser que ele não interfira tanto no desempenho das atletas. Isso se olharmos superficialmente. Afinal, ter algo desenvolvido exclusivamente para a equipe mexe com a autoestima. A camisa canarinho feminina é um passo importante para valorizar as mulheres tanto quanto para os homens no esporte.
O calção, as camisas e outras pessoas foram desenvolvidas depois de muita conversa com as atletas e estudos. Afinal, é quem está usando que sabe o que é melhor, certo? O resultado foi um uniforme histórico e bem interessante.
Camisa principal: uniforme da Seleção Feminina de Futebol
A camisa principal é a canarinho. Símbolo do domínio brasileiro no futebol, reconhecida nos quatro cantos do mundo, a camisa ganhou um tom de verde na barra da blusa. A textura também é um pouco diferente, como você pode ver na foto.
Outro detalhe que faz toda diferença é a frase “Guerreiras do Brasil”, estampada na parte interna do uniforme.
Os calções seguem um visual clássico, são azuis. Os meiões brancos complementam o visual.
Segundo uniforme da Seleção Feminina: uma constelação na camisa
A camisa reserva da seleção feminina é bem interessante. Traz o azul tradicional do uniforme 2 do Brasil, mas com uma estampa que remete a um céu estrelado. Como na camisa principal, por dentro traz a frase “Guerreiras do Brasil”. Segundo a Nike, fornecedora do uniforme, a ideia é motivar as vitórias dentro e fora de campo. Isso não só entre as jogadoras, mas para todas as brasileiras.
Orgulho de vestir a camisa da seleção feminina
A história do futebol feminino é de lutas. A prática do esporte chegou a ser proibida no Brasil por lei. Na Era Vargas, foi criado um decreto em 1941 que proibia a prática de qualquer esporte que exigisse força, incluindo o futebol.
“Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”, dizia o decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941.
Essa lei ficou vigente até 1983. Enquanto isso, os homens brasileiros eram exaltados e coroados reis do esporte mundialmente. A primeira participação do Brasil em uma Copa do Mundo Feminina, só aconteceu em 1988. Mas desde que elas entraram em campo, são motivo de orgulho para o país. Marta foi eleita melhor do mundo pela Fifa seis vezes, mais do que qualquer atleta homem ou mulher.
A pesquisadora Giovana Capucim e Silva descobriu, em sua dissertação de mestrado que se tornou livro, que as mulheres nunca pararam de jogar futebol, mesmo com a proibição. Elas praticavam o esporte, mas não de forma oficial, com uma equipe, como as que temos atualmente.
“A resistência do Estado, muitas vezes, era o menor obstáculo que elas encontravam para poder jogar futebol. Os olhares e comentários repressores recebidos das famílias, amigos e companheiros(as) podiam pesar-lhes muito mais do que qualquer resolução de órgãos estatais”, escreveu Giovana.
Esses fatos por trás do futebol feminino dão ainda mais orgulho da Seleção Brasileira. E as mulheres seguem lutando, no campo e fora:
“Quando vestimos a camisa do Brasil, além de buscar o melhor para a equipe, nós estamos brigando para que todas as mulheres tenham seu espaço no esporte. Temos enorme responsabilidade como referência para todas as meninas apaixonadas pelo esporte. Vai além da prática esportiva porque é uma luta pela igualdade”, ressaltou Andressinha, meio-campista da Seleção ao site da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Melhoria na performance atlética
A modelagem feminina faz toda diferença no desempenho atlético. Para esportes de alta performance, cada detalhe conta. Não é à toa que algumas inovações na indústria têxtil surgiram no esporte. Um exemplo, só para citar um, é o dry fit. A invenção revolucionária migrou rapidamente para o guarda-roupa geral, como já explicamos neste outro artigo.
O uso de tecidos tecnológicos na natação ou no atletismo, por exemplo, pode significar segundos que valem recordes. No futebol feminino, roupas desenvolvidas especialmente para as mulheres pode significar uma movimentação mais ágil e conforto. Na prática, mais gols pro Brasil e quem sabe até a taça da Copa do Mundo na França?
No Museu do Futebol em São Paulo, há uma ala dedicada à luta por uniformes pensados de acordo com a anatomia feminina. A exposição “CONTRA-ATAQUE! As Mulheres do Futebol” traz o seguinte texto:
“Como em qualquer esporte, a importância de haver uma roupa adequada à anatomia feminina tem a ver com o desempenho das atletas, não é uma questão de beleza”.
Aliás, aos interessados em conhecer mais a luta das mulheres no esporte, podem conferir a mostra até outubro de 2019. Para apoiar, assista aos jogos, compre as camisas de futebol feminino e incentive as meninas que gostam do esporte.
Nós vamos torcer para que o uniforme dê sorte às jogadoras brasileiras. Elas ainda não conquistaram nenhum mundial. O título inédito seria mais uma conquista na luta que elas ganham com gols de placa dentro e fora dos gramados.