4 mudanças e invenções têxteis em momentos decisivos da humanidade
Guerras, pandemias e revoluções. De acordo com o filósofo e historiador Leandro Karnal, em entrevista à CNN Brasil, esses três processos aceleram as transformações na humanidade. No setor têxtil, marcado por mudanças e invenções, não seria diferente.
“Na tradição histórica, depois de um período de recolhimento e morte, há uma grande explosão de vida. É o caso do Renascimento após a Peste Negra. Depois da Revolução Francesa, a moda em Paris se tornou muito extravagante e internacionalmente famosa. Haverá uma tendência a uma explosão de sociabilidade em um primeiro momento”, afirmou otimista.
Na fala, Karnal cita a moda parisiense como um dos destaques pós-revolução. No entanto, esses grandes processos aos quais a humanidade está sujeita acelerou outros aspectos interessantes na indústria têxtil, como iremos mostrar nesse artigo.
1. Transformações na indústria têxtil nacional durante e após as Grandes Guerras
O Brasil foi impactado, positiva e negativamente, nas duas Grandes Guerras. Algo curioso de se notar é como o mercado nacional encontrou boas alternativas enquanto o mundo desmoronava, como vamos mostrar a seguir.
Impacto na Primeira Guerra: desenvolvimento do mercado de tecidos finos
De acordo com um artigo de Maria do Livramento Clementino, apresentado no XII Colóquio Internacional de Geocrítica, a produção algodoeira do Brasil foi diretamente impactada na Primeira Guerra. Os produtos de algodão correspondiam a 19% entre 1905 e 1910. Com o conflito mundial, a matéria-prima que vinha do exterior, ficou escassa, o que inviabilizou a produção de produtos com essa fibra.
Além disso, a demanda internacional era toda voltada para suprir as necessidades da guerra. Por isso, o país parou de exportar roupas e focou no mercado interno. Houve, também, uma desvalorização do artigo devido a crise de consumo. Dessa forma, os brasileiros optaram por desenvolver tecidos finos, que têm maior valor agregado. Assim, esse nicho desenvolveu-se bastante no período.
Segunda Guerra: tempos áureos para o mercado de tecidos
“A exportação brasileira de tecidos atravessou os anos de guerra em ascendência passando de 1.982 toneladas em 1939 para 24.246 em 1945”, diz Maria do Livramento Clementino no artigo sobre impacto das guerras na produção têxtil.
No entanto, o favorecimento das vendas para o mercado estrangeiro não significou boas vendas em um primeiro momento do Pós-Guerra. De acordo com Maria do Livramento Clementino, aconteceu uma quebradeira generalizada por causa da recuperação dos mercados em países que haviam sido abalados no período bélico.
Os motivos para declínio do mercado brasileiro eram a precariedade da indústria têxtil quanto a mão de obra e equipamentos. A queda de faturamento forçou os brasileiros a melhorarem o maquinário e qualificação dos colaboradores. Depois disso, a indústria têxtil nacional retomou o sucesso de vendas para o mercado internacional.
2. Guerra liberta mulheres de roupas desconfortáveis
A Primeira Guerra Mundial fez com que várias mulheres precisassem trabalhar. Grande parte da população masculina estava no campo de batalha. Esse fato mudou o comportamento e o vestuário feminino. Foi nesse período que elas começaram a se vestir de maneira mais simples, as calças e o uniforme começaram a habitar o guarda-roupa delas, já que precisavam ganhar o pão de cada dia. É o que relata Débora Teixeira e Sara Silva para a Revista Eletrônica Anchiote, do curso de Moda da Fumec.
1914 foi um ano marcado por invenções têxteis para suprir a demanda de mobilidade para as mulheres: saias plissadas, sobrepostas ou com pregas foram criadas.
Channel democratiza moda e abole o espartilho
Em 1916, Coco Channel lançou uma coleção com tecidos sintéticos, novas dimensões e padronagem de roupas. Como resultado, houve a democratização da moda, que se tornou acessível para todos.
Em 1889, anos antes da Primeira Guerra Mundial, foi criado o primeiro sutiã por Hermine Cadolle. Foi uma tentativa de substituir os desconfortáveis espartilhos. Mas só em 1920, no pós-guerra é que eles se popularizaram. Coco Channel influenciou a produção dos sutiãs. Em 1950, após a invenção do nylon, ele se tornou o que é hoje.
3. Zíper aparece nas jaquetas de militares, pela primeira vez
O zíper faz parte das invenções têxteis que ficou popular na Primeira Guerra. Anos antes, o inventor da máquina de costura, Elias Howe, havia apresentado algo similar, mas muito complexo. O sueco Otto Fredrik Gideon Sundbäck desenvolveu, em 1913, o zíper que conhecemos hoje, com duas fileiras de dentes metálicos que se prendiam. Em 1917, os soldados americanos usaram jaquetas com o aviamento devido à facilidade. Sundbäck alegou que estava cansado de amarrar as batas com cordões.
4. Mulheres loucas por meia calça no pós-guerra
O nylon foi criado em 1937 e patenteado pela Du Pont. É uma das invenções têxteis mais curiosas, pois foi a matéria-prime de um dos produtos de maior sucesso feitos com a matéria-prima: a meia calça. No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, todo nylon tinha como destino materiais de combate. Inclusive, fez-se um apelo para que as mulheres que tivessem meias calças doassem. A doação foi transformada em para-quedas, mortalhas e fios para suturas.
Segundo uma matéria da revista Superinteressante, em 1946, no pós-guerra, quando anunciou-se a volta do produto às lojas, as mulheres foram à loucura para comprar o produto que deixa as pernas mais torneadas. Foram necessários 50 guardas para conter o furor das freguesas quando o produto voltou para as prateleiras de uma loja na Filadélfia. As meias calças desembarcaram junto com alguns soldados dos Estados Unidos, uma carga de chocolates e chicletes – outros produtos cobiçados da época em que o mundo voltava a respirar.
Entenda a história a partir do vestuário
As roupas e invenções têxteis refletem os anseios de seu tempo. Por isso, temos muitos artigos que mostram como a história do vestuário reflete comportamentos e os fatos. Confira e encante-se com esse universo, assim como nós!