Home office: vista-se de roupas e atitudes que aumentam a produtividade
A servidora pública Luciana Duarte passa quatro dias da semana em casa. Ela faz parte de um programa piloto da instituição em que trabalha para implementar o home office. Assim, só precisa estar na empresa uma vez na semana. As roupas de trabalho no home office são sempre confortáveis, mas raramente Luciana usa pijama durante o expediente. Já a publicitária Rayana Andrade, home officer em tempo integral, se arruma antes de começar as tarefas do dia. Às vezes até faz maquiagem antes de começar a jornada.
Na Comunidade Rock Content, que reúne os freelancers da startup, a maioria das pessoas diz que trabalha de pijama ou até do que chamam de look mendigo, largadão. Alguns até ressaltam poder se vestir bem à vontade como uma das grandes vantagens de se trabalhar em casa.
Porém, há muitas variações. Há quem diga que se arruma como se fosse para a reunião mais importante da vida.
Roupa e produtividade: tem relação?
Segundo o psiquiatra Frederico Porto, a roupa tem influência na produtividade, mas não há uma resposta pronta sobre qual é a ideal. O médico, que desenvolve programas de neuroprodutividade, explica que para algumas pessoas é necessário tirar o pijama para fazer a transição entre o tempo de descansar e o de trabalhar. Esse ritual, de se vestir, ajuda algumas pessoas a mudarem o mindset, sinaliza que está em casa, mas que é hora de trabalhar.
De acordo com Frederico, é necessário criar um contexto para favorecer a produtividade em casa. O mais importante é que a pessoa consiga focar nas tarefas, ter disciplina. Deve-se estudar uma maneira de não ser interrompido nem interromper por conta própria a execução das tarefas. Dessa, mais importante do que a roupa são as atitudes que o home officer veste.
Táticas para ser produtivo em casa
Para a home officer Luciana, o que mais a ajuda a focar no trabalho é ter um horário fixo para trabalhar. Ela entendeu que à tarde rende mais. Dessa forma, faz exercícios físicos e marca outros compromissos pela manhã.
“Eu sinto que preciso despertar primeiro para depois começar as minhas tarefas. Assim, deixo a tarde livre e sempre trabalho no mesmo horário”, afirma. É o que Daniel Senna, redator freelancer, também faz.
A publicitária Rayana Andrade anota tudo que precisa fazer e deixa perto dos olhos, em post-its e outros locais. Há uma explicação científica do porquê de as anotações funcionarem. Escrever o que é necessário ser feito é um aliado para organizar-se mentalmente. Com as anotações, por mais que surjam novas tarefas, lembra-se mais facilmente do que é prioridade. O mindset de Rayana também contribui para que ela seja disciplinada.
“Eu acho que tem algo muito maior por trás das minhas anotações. Sei que preciso atingir alta performance para alcançar meus grandes objetivos. Por isso, deixo tudo organizado e sou obstinada a fazer o trabalho que amo da melhor maneira possível”, afirma.
Mariana Zeinelabdien, redatora da Rock Content, faz a gestão do tempo no home office de acordo com o fluxo do dia e metas. “Eu organizo meu tempo por ‘metas’. Tento fazer um artigo pela manhã, que é quando minha filha está em casa comigo e não tenho muita produtividade. Depois, faço dois pela tarde, quando estou sozinha”, detalhou.
Já a Fernanda Monteiro, também redatora da Rock Content, usa o método pomodoro. A técnica, criada por um estudante italiano, consiste em trabalhar ininterruptamente por 25 minutos. Com o auxílio de um timer, o trabalhador só para quando o alarme soa. Daí, faz intervalos de 5 minutos. A cada quatro ciclos, a pausa é maior, pode ser de 15 a 30 minutos.
Saúde mental no home office
Um dos grandes problemas que podem surgir por causa do teletrabalho é a solidão do home office. O psiquiatra Frederico alerta que esse é um risco, pois atualmente as empresas são os locais onde mais acontecem as interações sociais. Isso porque as famílias estão menores, muito mais gente vive sozinha em casa e o contato com amigos e parentes é menor pessoalmente. As pessoas passam mais tempo no trabalho do que em qualquer outro lugar.
Por isso, Porto avalia o home office parcial como uma excelente opção. No caso da repartição pública em que Luciana trabalha, ter um dia na empresa é ótimo para suprir a necessidade natural humana de interação social. Nos outros quatro dias, ela e a instituição são beneficiadas com os pontos positivos do home offiice. Enquanto ela trabalha em casa, economiza tempo no deslocamento e pode organizar a vida de acordo com o que mais funciona para ela. Além disso, usa a própria internet, energia elétrica e outros. É economia para a empresa.
Luciana conta que imaginava que iria sentir muita falta do convívio com os colegas de trabalho. Porém, além de ir uma vez por semana à empresa, supriu essa necessidade com o contato com pessoas que encontra quando vai se exercitar.
Home office é para todos?
É preciso ter perfil para trabalhar bem em casa. Na instituição pública em que Luciana está, por exemplo, não era obrigatório aderir. Só optaram pelo home office aqueles que quiseram experimentar a modalidade. Além do colaborador ter perfil, é necessário que a empresa tenha uma cultura que favoreça o trabalho remoto.
“As tecnologias favorecem o home office. Porém, não é todo mundo que tem a cultura de fazer uma reunião por skype, por exemplo. Mais que isso, a atividade tem que ser viável de ser executada à distância. Ou seja, não há uma receita. É necessário estudar a possibilidade e ver se realmente é benéfica para o trabalhador e para a empresa”, afirmou Frederico.